BTS Entrevista: Artemys, cosplayer e streamer

Alô fãs de esports e seguidores da BTS Brasil! Hoje temos mais uma matéria da seção BTS Entrevista! Semanalmente, traremos entrevistas com figuras ligadas aos games e aos esports, para que você saiba mais sobre os nomes conhecidos dos games e da internet em geral.

Hoje, falaremos com a Artemys, que é presença constante nas redes sociais com seus cosplays e com suas lives:

Artemys como Patricia Tannis, de Borderlands (foto: Fabricio Dolci)

Primeiramente, uma apresentação sua: qual sua formação, qual seu trabalho, quem é a Artemys fora dos cosplays e das streams, etc.

Bonassera Natasha, bonassera Katucha! Bom, meu nome é Artemys e em paralelo à produção de conteúdo e ao trabalho no maid café Sugar Club Maid Café, eu pago meus boletos com meus trampos como técnica de biblioteca e fotógrafa freelancer! Além disso, também escrevo contos que nunca publico e fanfics que publico com orgulho, haha. Sou mãe de pet e preguiçosa profissional!

Como e quando você começou a fazer cosplay? E como/quando começou como streamer?

Meu primeiro contato com cosplay foi lá pelos meus dez anos, numa matéria da revista Henshin (que hoje é o portal de notícias da Editora JBC), e eu achei a ideia meio… tosca. Mas ok, três anos se passaram e eu fui ao meu primeiro evento… e minha opinião mudou. Eu tinha achado muito mágico, queria muito fazer um cosplay e fiquei TRÊS ANOS juntando dinheiro pra fazer um cosplay (já que eu era estudante e só tinha dinheiro contado de lanche e aniversário), mas o valor nunca chegava.

Um belo dia no final de junho de 2008 eu cansei, meti o louco, comprei os tecidos e mandei fazer numa costureira do bairro, mesmo. Tô nessa desde então. Ah!, a título de curiosidade, o cosplay que eu fiz foi a Maho Izawa, de KAREshi KANOjo no Jijou, um mangá/anime shoujo produzido em 1998 (e muito bom por sinal, recomendo demaiiis!).

Já com relação às streams, eu tento fazer com regularidade desde a transformação da justin.tv em Twitch (SIM), mas eu sempre desistia, fazia sem webcam e sem áudio por medo e tudo o mais. Hoje, pensando em retrospecto, se eu tivesse perseverando talvez eu tivesse um canal muito maior, mas estou começando a divagar, hahaha. Durante a pandemia, no meio de 2021, resolvi retomar pra ficar mais próxima de amizades, mesmo; poder passar menos tempo sozinha (já que na época eu ainda não tinha pet e meu namorado trabalhava fora e chegava bem tarde em casa)… Essas coisas. Acabou que atualmente é um dos conteúdos que eu mais gosto de criar! 

Quantos/quais cosplays você já fez? Se forem muitos, pode listar apenas os principais!

Vixe, hahaha. Eu parei de contar lá pelos 30 cosplays, mas deve ser algo na faixa de uns 35 a 40. Não sou uma cosplayer tão profícua e gosto de reutilizar meus cosplays, principalmente se são antigos, então quando eu finalizo um cosplay eu meio que faço uma roupa pra vida toda. Mas os principais são as versões da Sona e Jinx de League of Legends (Fliperama, Pentakill e Noite Feliz para Sona; e Guardiã Estelar e Fogos de Artifício, para Jinx); os cosplays de Ravena de Os Jovens Titãs (2003), Os Novos Titãs (1980) e DC Bombshells; a Eternal Sailor Venus, de Sailor Moon; a Dr. Patricia Tannis, da franquia Borderlands; e, obviamente, a Anthy Himemiya, de Revolutionary Girl Utena, que garantiu um terceiro lugar na etapa brasileira do WCS, principal concurso de cosplay do mundo, junto com a SeshiMoon!

Artemys como Jinx (skin Fogos de Artifício), de League of Legends (foto: GALAXhime)

O pessoal também lembra bastante de alguns outros cosplays como a N. 18 de Dragonball; o Aladdin e a Yamraiha de Magi: The Labyrinth of Magic, e mais recentemente Link e Zelda de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, mas eu acabo priorizando os citados anteriormente quando preciso “montar portfólio”.

Quais são as melhores partes e quais são os maiores desafios de se lidar com público nas redes sociais?

Bom, a gente tem que partir do princípio que mesmo me entendendo como criadora de conteúdo eu basicamente ainda uso as redes sociais como se usava lá por 2005: para conhecer pessoas e dividir interesses. Então, quando a gente consegue fazer isso, conhecer pessoas novas, mesmo sem gostos em comum, é algo realmente mágico, sempre foi. É muito legal pensar na quantidade de gente que eu conheci em redes sociais; poxa, você eu conheci em redes sociais, sabe? Haha. Então mesmo que eu tenha um público nas redes e possa me considerar uma pessoa pública, pra mim todo mundo entra na categoria de amizade ou colega.

Acho que a parte mais difícil, além do assédio e perigos comuns às redes, são as superinterpretações das coisas que falamos para contextos nada a ver, o que gera… Mais assédio. Então acho que no fim das contas a parte mais difícil é lidar com assédio, mesmo, que ora pode ser moral, ora é sexual e muito frequentemente é os dois e às vezes a gente não tá num dia com paciência e jogo de cintura pra contornar a situação.

Quais dicas você dá para quem pretende começar como cosplayer? Tem alguma dica ou palavra de incentivo especificamente para as mulheres do cenário?

Vamos lá, primeiro de tudo e mais importante: cosplay é sobre DIVERSÃO. Eu tenho visto muitas pessoas, principalmente mais novas, iniciando no hobby com intuito de se tornarem influencers ou até mesmo engatar na carreira de modelagem, e, embora seja uma razão tão boa quanto qualquer outra, é uma motivação que se esgota nos primeiros meses porque cosplayers realmente grandes, com carreiras consolidadas enquanto profissionais, que tiram seu sustento disso, são a minoria dentre quem pratica o hobby. A maioria é só gente que gosta de se fantasiar, gosta de artesanato, gosta das suas séries, animes, jogos, livros.

Então, de início, a dica que eu dou é se divertir no processo. Escolha algum personagem que goste, seja da construção, seja do design, independente da mídia de origem estar em alta ou não, e SE DIVIRTA brincando com a fantasia. Porque cosplay etimologicamente é exatamente isso: brincar de se fantasiar.

Não pense no quão “perfeito” o cosplay está ou o quanto você se parece com o personagem que está representando; pense nas poses bobas que você pode fazer nas fotos de estúdio e de fãs da mídia (caso use em evento), das piadas internas que vai fazer com amizades, colegas do grupo e demais fãs, do quanto você aprendeu montando o acessório de cabelo, ou escolhendo uma peruca de cor específica, ou comprando tecido pra enviar a roupa para encomenda (ou mesmo costurar!).

No fim das contas, as lembranças que ficam são essas, do dia gostoso que você passou, das amizades que fez criando e usando a roupa, dos laços que criou quando foi naquele fórum ou grupo de Facebook pedir ajuda pra encontrar uma loja boa de pedrarias.

Artemys como Sabrina, de Pokémon (foto: GALAXhime)

Sei que não é o foco da pergunta, mas eu sempre me lembro com carinho de duas situações distintas que ilustram o que eu disse. A primeira aconteceu em um evento de Santa Catarina, o AniVenture (o melhor evento do mundo e só minha opinião importa) e eu estava com cosplay de Bulma coelhinha de Dragonball. Nisso, eu tava tirando fotos e uma menininha de uns dez anos passou, pediu foto, aquela coisa. A mãe dela não conhecia o personagem e perguntou quem era, e ela respondeu “é a Bulma de coelhinha, do Dragonball! Eu gosto muito dela, quero ser que nem ela quando eu crescer!”. Meus olhos se encheram de lágrimas, sabe? Eu nem lembro se ela elogiou meu cosplay, mas eu lembro que ela estava extremamente feliz de ver alguém usando fantasia da personagem favorita dela, de descobrir que alguém além dela também gosta tanto da Bulma a ponto de usar a roupa no evento.

A outra aconteceu na BGS (um segundo lugar muito disputado na batalha de melhor evento do mundo, Nyanko e Macks só não precisam se cuidar porque nada supera as recompensas da Guilda dos Aventureiros) e eu estava com cosplay de Zelda, do Breath of the Wild. O cosplay foi feito correndo, no improviso mesmo, e além dos elogios, a parte mais legal foi encontrar outras cosplayers de Zelda (do mesmo jogo ou jogos diferentes) nos corredores do evento e TODA vez que alguma se encontrava comigo, a gente se cumprimentava com “Oi, Zelda!”. É uma coisa aparentemente boba, mas fez meu dia muito mais feliz e é uma lembrança muito querida até hoje, porque são coisas como essa que fazem cosplay ser um hobby tão especial.

Eu demorei anos pra perceber que cosplay é muito menos sobre roupas, referências e se parecer com o personagem e muito mais sobre criar memórias, exercer a criatividade e se sentir bem com o que está fazendo. Então tudo bem se você aumentar o tamanho da saia porque não se sente confortável, ou escolher uma peruca de outra cor porque gosta mais, porque no fim das contas a questão que fica é: tá divertido? Se estiver, então seu cosplay está perfeito e pronto pra apresentar no palco, andar no evento, tirar fotos pro Instagram ou fazer um vídeo pro TikTok. 

Não levem 12 anos de hobby pra perceber isso como eu levei, se divirtam desde o dia número 1.

E meninas, dica de quem literalmente andou de collant em evento em mais de uma oportunidade: a pose do super herói, com o braço na cintura SALVA VIDAS. Use-a sempre que alguém for inoportuno e se precisar META O COTOVELO MESMO. Mas enquanto sorri. Porque vai parecer acidente e a pessoa vai ficar sem graça de pedir outra foto, ainda mais se tiver outra pessoa querendo foto ou se você mandar o “PUTZ MEU DOGÃO DA SAKURA TÁ PRONTO PARÇA, MAL AE QUEM SABE NA PRÓXIMA faloooouuuuuuuuu…”.

Falando de games agora: quais são seus favoritos? E qual desses você recomendaria para qualquer pessoa?

Bom, não é muita surpresa que meus jogos favoritos são os da franquia Borderlands, com especial destaque para Borderlands 2. Além disso, também gosto muito de League of Legends, BioShock, os jogos de plataforma de Kirby, UNDERTALE e, mais recentemente, entrei pro fandom de Zelda com Breath of the Wild. Também amo um puzzle e sou completamente apaixonada pela duologia Portal (quem sabe um dia tenhamos Portal 3? Só a Valve sabe). Mas eu diria que sou uma “gamer eclética”; eu jogo de tudo desde que me entretenha e me mostre uma boa história ou pelo menos algumas horas de diversão!

UNDERTALE e Breath of the Wild são os que eu mais recomendaria pra todo mundo, não só pela jogabilidade, mas por conta da temática. Ou mesmo os jogos da franquia Kirby, que são fáceis e gostosos de jogar, mas sem deixar de serem desafiadores. Os demais acabam tendo temáticas um pouco mais pesadas, ou até mesmo conteúdo violento ou gore, então eu evito recomendar pra menores de idade. Mas todos os jogos que eu citei são bons, se você tiver mais de dezoito anos eu recomendaria jogar tudooo!

(Se for jogar Borderlands comece pelo 2, vá para o Pre-Sequel!, jogue o Tales From the Borderlands e depois o Borderlands 3. Jogar o primeiro Borderlands é opcional, apesar do remaster o jogo dá MUITA vertigem de movimento, tem um storytelling bem mequetrefe e a jogabilidade é um pouco travada. Recomendo, desse jogo, jogar apenas as DLC, principalmente a DLC Secret Armory of General Knoxx) 

Assim como os games e os esports, o cenário dos cosplays mudou e cresceu muito nos últimos anos. Quais diferenças você vê, comparando o período em que começou com agora?

Profissionalização. O cosplay nunca esteve tão profissional; a gente tem pessoal especializado pra tudo! Alfaiataria e artesanato exclusivo para cosplay, pessoas especializadas em modificação de perucas para cosplay, importação, lojas que vendem certas roupas à pronta entrega… Além, de, claro, o hobby ter sido promovido a uma profissão em alguns casos. Eu sou de uma época em que a gente ia na costureira da rua e fazia as coisas na base do “faça-você-mesmo”; hoje se pode comprar, ou mandar fazer com pessoal especializado, basicamente tudo na fantasia. A qualidade dos materiais aumentou, também. 

Embora eu ache essa profissionalização muito positiva, por abrir o leque de serviços e opções que temos para comprar e personalizar as fantasias, criou uma pressão muito grande nas pessoas que têm cosplay apenas por hobby. A monetização de algo que tecnicamente é pra gente espairecer, a vaidade de ter números altos em plataformas como Instagram… Isso é muito diferente de como era quando eu comecei, quando no máximo tínhamos o Fotolog como uma vitrine pra “bombar”; todas as outras redes eram focadas muito mais em conexões que em números. 

Artemys como Link, de Zelda (foto: Artemys/acervo pessoal)

Eu tenho notado, infelizmente pra mim que amo estar nos palcos, uma importância cada vez menor dos concursos com apresentação nos eventos. A grande maioria tem disponibilizado apenas desfiles e, quando as apresentações são online, os vídeos mais premiados têm produções muito “profissionais” (por falta de melhor termo), ou estão no formato mais popular de TikTok/Reels. Isso não é um demérito, mas pra mim simplesmente não funciona. Às vezes, eu me sinto parada no tempo, querendo voltar para uma época que sei que não adianta forçar, não vai voltar… Tenho tentado levar o hobby como se ainda fosse 2008, confesso, mas às vezes as mudanças são tão evidentes que a gente pondera se deve se adequar mesmo se não é assim que enxergamos o hobby.

(spoiler: não.)

Considerações finais: algum agradecimento que queira fazer, algum desabafo, algum comentário sobre o cenário dos cosplays, etc. Este espaço é seu!

Divirtam-se. Façam o que tiver vontade, se isso não prejudicar a vocês e demais coleguinhas. Façam amizades. Não sintam vergonha de ser quem vocês são. Joguem videogame, assistam séries, doramas e animes; façam livestream, façam cosplay, montem grupos cover de k-pop, criem uma fursona; enfim, a vida é uma só e a gente tem que aproveitar o máximo que dá desse tempo aqui (de forma responsável, ok?). Não importa se você tem 15 anos ou 50, aproveite seus hobbys e suas paixões independente dos julgamentos, porque só você conhece o peso da sua vida e espairecer faz bem. Cuidem uns dos outros, principalmente. 

E, obviamente, se estiverem precisando de companhia pra bater um papo descompromissado de segunda à sexta-feira a partir das 20h (BRT), é só colar no meu canal da Twitch que a gente tá por lá jogando conversa fora (e fazendo gameplays criminosas que deveriam me garantir 10 anos de prisão).

Obrigada pela entrevista!!

AH É, ASSISTAM ARCANE NA NETFLIX!!!!!

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Texto por Vitor Santos

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