UFSC: conheça a equipe de esports universitário que também é laboratório de alunos

Com pouco mais de um ano de existência, a UFSC Titans, equipe de esports da Universidade Federal de Santa Catarina, tem marcado presença em vários campeonatos regionais e nacionais, já tendo um bom número de títulos no currículo.

Entre jogadores, comissões técnicas e organização, o time é composto por cerca de 50 estudantes dos cinco campi da UFSC, trabalhando com a proposta de representar a instituição em eventos esportivos, além de possibilitar que alunos de diversas áreas desenvolvam projetos e coloquem em prática conhecimentos adquiridos em aula.

Staff da UFSC Titans

Lucas Dias é estudante de Engenharia de Controle e Automação do Campus de Blumenau, e também o presidente da UFSC Titans. Ele conta que a ideia da criação do time veio em função do seu trabalho em uma empresa que fabrica uniformes de competição:

“Nas minhas demandas diárias, chegavam diversos times de esportes eletrônicos, e começaram a aparecer alguns universitários. Foi aí que, para entender um pouco mais desse mercado, fui estudar um pouco como funcionava, e descobri todo esse mundo que existia e que eu não fazia ideia, que são os campeonatos, os eventos que aconteciam. E eu olhava esses campeonatos e via que a UFSC não estava muito presente, e me perguntei por quê. Por que não existia ainda uma equipe de competição voltada exclusivamente para esportes eletrônicos?”, relata Lucas.

Após algumas pesquisas, o estudante soube que algumas atléticas de cursos vinham participando de torneios e, também, que, em 2019, a Secretaria de Esportes da UFSC fizera uma seletiva para levar jogadores de League of Legends (LoL) para os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), formando um grupo conquistou a medalha de prata na competição:

“Quando descobri isso, vi que na última edição a UFSC tinha sido vice-campeã brasileira em League of Legends, eu falei: ‘Poxa, a gente reuniu gente de todos os campi e conseguiu ser vice-campeão brasileiro. Imagina se a gente está disponível para treinar para todos os campeonatos que ficam rolando durante o ano inteiro’”, comenta o estudante.

Time de CS:GO da Titans durante os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs)

Assim, mais seis colegas de faculdade foram chamados para dar início ao projeto:

“Sempre gostei muito de jogos, mas não era muito minha praia a área de jogo competitivo, eu manjava muito pouco. Então, convidei amigos que soubessem um pouco de cada jogo, e abrimos uma seletiva para poder conseguir os atletas para as modalidades que tínhamos colocado inicialmente, que eram umas dez modalidades. Inicialmente, na modalidade de League of Legends, por exemplo, que são cinco integrantes na equipe, a gente estava torcendo para que na seletiva tivessem pelo menos dez, para fazer um confronto de cinco contra cinco”, explica.

No final, o número foi bem maior: a seletiva teve mais de 200 inscritos, sendo mais de 30 inscritos somente na categoria LoL. Isso sem considerar as pessoas que procuraram a organização por terem interesse em participar, mas que ficaram de fora por não terem vínculo com a UFSC, incluindo diversas crianças e adolescentes.

Atualmente, a UFSC Titans compete em sete modalidades: LoL, CS:GO, Valorant, Free Fire, Fifa, Hearthstone e Clash Royale. Além dos jogadores, cada time conta com um gerente (manager), um treinador (coach), responsável por criar as táticas e organizar o dia a dia de treino dos atletas, e ainda um analista, encarregado de estudar os jogos do próprio time e dos rivais, apontando aspectos que podem ser melhorados. 

A Titans conta ainda com sua direção, composta por presidente, vice-presidente e secretária-geral; uma equipe de operação, responsável por parcerias, captação de verbas e relações externas; um time de comunicação e marketing, com designers e analistas de mídias sociais; e uma psicóloga do esporte.

Recentemente, a UFSC Titans se integrou a um projeto de extensão, coordenado pela professora Marilise Luiza Martins dos Reis Sayão. Esse vínculo permite que a organização concorra em editais da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) voltados a equipes de competição. O time também mantém diálogo constante com a Secretaria de Esportes da UFSC.

Campeonatos

Desde o seu surgimento, a Titans tem buscado ter a maior participação possível nos torneios universitários de esports. O primeiro foi a Copa Alcateia, organizada em setembro de 2020 por uma atlética da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). 

Ali, ficaram na primeira colocação nas categorias LoL e CS:GO. Depois, foram campeões de CS:GO na Liga Universitária de eSports (LUE) 2020 e de CS:GO e LoL na etapa regional do BB Game Series e vice-campeões de CS:GO no Torneio Universitário de eSports (TUeS) 2020 e no JUBs 2021, de LoL na E-Copa Universitária de Santa Catarina e de Fifa no Checkpoint Games Club.

Além do público constante e ativo, alguns desses torneios possuem grande visibilidade; um exemplo deles é o TUeS, que antes da pandemia realizava sua final na Comic Con Experience (CCXP) – o maior evento de cultura pop da América Latina, em São Paulo –, contando inclusive com transmissão ao vivo pelo canal SporTV. 

Segundo Lucas, o cenário de esports universitários pode ser considerado uma porta de entrada para times profissionais, havendo casos de contratação de jogadores e de membros das equipes de organização. 

Existem, inclusive, grupos profissionais que “adotam” e patrocinam os universitários, como a INTZ, organização associada à Atlética de Esportes Eletrônicos da Universidade Federal Fluminense, a INTZ A2E, e da Falkol, que em 2019 fechou uma parceria com a equipe da Universidade Federal do ABC (UFABC), hoje chamada de Falkol Storm. 

“A galera do profissional já está dando uma olhada no que é o esport universitário, porque em muitas regiões, por exemplo aqui no estado de Santa Catarina, o mercado universitário acaba sendo muito destacado em relação ao amador”, ressalta Lucas.

Rotina de treinos

Como em qualquer modalidade esportiva, uma rotina de treinos é necessária para que uma equipe ou jogador se estabeleça. E, no caso do time de LoL da UFSC Titans e de muitas equipes universitárias, há a questão de conciliar a rotina de treinos com a rotina dos estudos:

“Em time, nessas últimas semanas não treinamos tanto, mas vamos voltar a fazer, porque passamos por muitos campeonatos seguidos, o pessoal estava sobrecarregado, e jogar demais às vezes pode ser um problema. Mas a gente geralmente treina de segunda a quinta, no período da noite, porque o pessoal costuma trabalhar e estudar durante o dia. Então, geralmente treinamos das 19 horas até as 22, 23. Às vezes treinamos sábado à tarde, dependendo de como está o final de semana, mas geralmente a gente compete final de semana”, relata o jogador de LoL e aluno de Ciências da Computação Arthur Gums Willrich, conhecido no game por mrtN. 

Para manter a forma, os jogadores da Titans praticam sozinhos em seu tempo livre. Arthur, por exemplo, costuma aproveitar os intervalos entre suas aulas para isso. Na média, ele joga entre três e quatro horas por dia, além dos treinos coletivos.

Equipe de League of Legends da UFSC Titans

Atualmente, a equipe de LoL conta com cinco jogadores titulares, três reservas e um treinador, que faz também o papel de analista. Na época da entrevista concedida ao site da UFSC, eles estavam em processo de seleção para incluir mais dois jogadores e competindo todos os finais de semana no Circuito Brasileiro de Esports Universitários (CBEU) e na Empoliga Major.

Antes da UFSC Titans, Arthur, que joga LoL há mais de dez anos, só havia participado de campeonatos pequenos e amadores com amigos. Assim, a equipe universitária foi uma possibilidade de se inserir em competições e aprimorar seu jogo. 

“Eu me considero um jogador bom, sempre joguei contra profissional, em alto nível, e eu nunca tive uma experiência competitiva. Claro, eu joguei alguns campeonatos antes, mas era mais para me divertir. Daí eu vi no time uma oportunidade de ter algo mais sério, de poder escalar e ir melhorando”, diz Arthur.

Divulgação e laboratório

Lucas acredita que, ao representar a UFSC em campeonatos, a Titans também pode ajudar a divulgar a Universidade para novos públicos, incluindo crianças e adolescentes, um aspecto que o grupo pretende explorar mais no futuro, com o retorno dos campeonatos presenciais. 

Ao conversar com as pessoas que os procuravam pelo Instagram porque gostariam de se inscrever no time, ele descobria que várias delas, mesmo morando no estado, nunca tinham ouvido falar na UFSC. 

“Então a gente chegou a alcançar pessoas de Santa Catarina que não conheciam a universidade federal do estado. Esse projeto trouxe uma importância muito legal para a comunidade, para a galera que gosta de jogos eletrônicos. E, ver um projeto desse como uma oportunidade para entrar na universidade, acho isso muito bacana para a própria UFSC, que consiga captar esses adolescentes e essas crianças que tenham interesse”, explica o estudante.

Outro projeto da Titans é que a organização sirva de laboratório para que alunos de diversas áreas apliquem seus conhecimentos obtidos em sala de aula, ou também para que desenvolvam projetos de pesquisa. 

“Gente na universidade que gosta de esporte eletrônico tem demais. E tem muitos que nem veem a possibilidade de envolver alguma coisa de esporte eletrônico com o que aprendem no curso. Então, a gente cria essa possibilidade de a pessoa investir nesse lugar e mostra também que existe oportunidade, existe mercado para ela nessa área”, ressalta o presidente da Titans.

Um exemplo disso é Emily de Farias, bacharela em Psicologia e estudante do último semestre de Licenciatura em Psicologia. A jovem, que já jogava LoL desde 2014 e acompanhava o cenário competitivo, ficou sabendo por um conhecido que a UFSC Titans procurava alguém da psicologia do esporte. 

Embora nunca tenha trabalhado com isso anteriormente, Emily tinha interesse pessoal pelo tema, além de ter feito uma disciplina sobre o assunto no Centro de Desportos (CDS). Assim, ela assumiu a vaga e se comprometeu a pesquisar materiais para embasar suas atividades.

Emily de Farias é estudante de Psicologia, e atualmente trabalha com Psicologia do Esporte na Titans

Seu projeto de trabalho se dá em três modalidades: palestras, nas quais faz exposição de conteúdos envolvendo jogos e esports; oficinas, voltadas ao desenvolvimento de habilidades e exercícios práticos; e atendimentos, focados em demandas mais específicas, individuais e de pequenos grupos. 

Estes últimos ainda não foram postos em prática, uma vez que é necessário registro no Conselho Regional de Psicologia para isso. Nas palestras e oficinas, por outro lado, já foram abordados assuntos relacionados à saúde mental, ansiedade, motivação, estresse e queda de desempenho.

Apesar de não ter certeza do que fará após se formar, Emily ressalta que tem vontade de seguir se aprofundando em psicologia do esporte, além de fazer uma pós-graduação na área.

“Seria incrível poder trabalhar com isso. Desde 2020, quando entrou na equipe de esports, ela conta que tem estudado temas novos e buscado cursos para fazer um trabalho de qualidade e com ética, que traga um impacto positivo para a sociedade. A Titans me permitiu aprender e estudar muita coisa. Coisas que eu não teria feito se não fosse pela Titans”, destaca.

Siga a BTS Brasil no Facebook, Instagram e Twitter e fique por dentro de tudo nos esports!

Texto por Vitor Santos

Tags: