O universo dos esports gira em torno de diversos assuntos além dos jogos, e um deles é a questão da saúde mental dos atletas profissionais.
O assunto é bastante comentado nos dias atuais, e vivenciado por muitos atletas de alto rendimento que sofrem com o chamado burnout devido a exaustão extrema de treinamentos e competições. Este tipo de situação fez com que a psicologia nos esports crescesse com o passar dos anos, e dessa forma falaremos sobre o assunto logo abaixo no texto.
Graduação e Pós Graduação em Psicologia na UFSC
Rafael Pereira é nascido em Timbó, Santa Catarina, e cursou Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina. Durante a graduação entre os anos de 2014 a 2016, Rafael foi auxiliado pelos professores Doutores Psicólogos da UFSC para prestar assessoria ao time profissional de League of Legends CNB e-Sports Club.
Na época, não se falava tanto sobre o assunto, e por isso os jogadores não olhavam com os mesmos olhos sobre a importância da psicologia dentro dos esportes eletrônicos.
Rafael sempre acompanhou o cenário competitivo do jogo, mas ao realizar pesquisas sobre o assunto, notou que faltavam pesquisas científicas relacionadas ao tema. Com isso, ele criou um Projeto de Pesquisa e Extensão com a UFSC com objetivo de estruturar esse campo voltado à psicologia.
A dissertação do mestrado de Rafael também envolveu o assunto, com o título: “Associações entre personalidade e coping na qualidade de vida em jogadores profissionais de League of Legends no Brasil”.
A importância da psicologia nos esports
No ano de 2020 em meio à pandemia de Covid-19, diversos jogadores profissionais conhecidos se ausentaram de suas funções para cuidarem de sua saúde mental, e encontrar motivação para competir. O burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional) afeta principalmente as pessoas que possuem um laço forte com seu trabalho.
É um problema que pode ocorrer por vários motivos, mas no caso dos esports, as expectativas que o jogador cria, a pressão por resultados e insatisfação nos treinos são os principais pontos que podem ser citados.
Recentemente, exemplos famosos de burnout deram as caras no cenário competitivo: Lukas “gla1ve” Rossander e Andreas “Xyp9x” Højsleth fazem parte da equipe da Astralis e atualmente estão ativos, mas chegaram a anunciar um bom tempo de pausa para restabelecer a saúde mental. No Brasil, tivemos o caso de André “tiburci0” Rossett, que também percorreu o mesmo caminho no último ano.
Como é a realidade na prática
Com todos esses fatores em mente, a maioria das equipes de Esports está investindo em pelo menos um psicólogo voltado à cada modalidade. Isso ocorre devido ao fato do burnout ser um problema sério que pode levar a complicações irreparáveis, não apenas no esporte.
Entre outros pontos, a ideia de um psicólogo que trabalha com esports é:
- garantir que os atletas tenham uma mentalidade condizente com o ambiente competitivo;
- estabelecer objetivos, motivações e metas;
- estabelecer rotinas;
- treino de reflexos e outras funções cognitivas relevantes para sua modalidade;
- coesão grupal, quando estiverem inseridos em modalidades grupais;
- maneiras de lidar com ansiedade;
- dentre outros aspectos psicológicos.
Natalia Zakalski é psicóloga esportiva, tendo trabalhado com a INTZ nas campanhas vitoriosas da equipe no CBLOL. Ela explica que o trabalho com uma equipe de esports vem da convivência com os atletas no dia-a-dia. Isso envolve acompanhar treinos, acompanhar competições, observar seus comportamentos e ações para gerar demandas.
“Também é importante que o psicólogo busque as demandas a partir dos próprios atletas e da comissão técnica, consolidando seu trabalho a partir dessas três demandas: observação, dos atletas e da comissão técnica“, afirma Natalia Zakalski, que atualmente trabalha com as equipes da Vorax Liberty, do Fluxo e do São Paulo.
Importante ressaltar que, semelhante ao que ocorre na UFSC em Santa Catarina, outras universidades com o curso de Psicologia constituem projetos voltados para os esportes em geral e também para os esports.
Referências na área da Psicologia
Uma grande referência quando o assunto é psicologia no Esports tem nome e sobrenome, João Cozac. Ele começou nos esportes convencionais, até que eventualmente se especializou nos esportes eletrônicos, passando pelas equipes de League of Legends da Vivo Keyd, e de CS:GO da MIBR. João também é presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte.
João sempre ressalta que o problema do burnout nos esports está relacionado com a expectativa que o jogador cria em torno de uma possível evolução. Ele cita que quanto mais jovem o jogador, mais difícil de lidar com outras situações que podem influenciar na saúde mental, como a fama. Porém, como citado acima, a pressão por resultados pode ser o ponto chave.
Ainda, em estudos que investigam se o tempo de jogo influencia no bem-estar do indivíduo, conclui-se que as motivações, paixão e necessidades psicológicas básicas do jogador podem influenciar mais nas variáveis de bem-estar.
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Texto por Vitor Santos