Nativos: conheça a equipe de esports formada apenas por indígenas

Ao perceber um grande interesse dos jovens indígenas pelos jogos de celular, o cacique Kanynary, do povo Apurinã, teve a ideia de criar a primeira equipe totalmente indígena do Brasil. Assim surgiu a Nativos, feita para trazer inclusão e representatividade aos povos indígenas:

“Eu pensei ‘cara, eu conheço tantos jovens que são bons em jogos, não tem um espaço para os indígenas dentro do e-sports”, contou ao Metrópoles. “Já que não temos espaço, por que não criar nosso próprio espaço? Isso vai ajudar o jovem a perceber que ele não precisa parar de ser indígena e de ter sua cultura por conta de um jogo”, explica Kanynary.

Cacique Kanynary, idealizador da Nativos, primeira equipe indígena de esports do Brasil

O cacique também conta que na região onde mora, na cidade de Lábrea, no sul do Amazonas, muitas escolas das aldeias só vão até o 5º ano; por conta disso, os jovens precisam ir a escolas mais distantes, geralmente escolas não indígenas. Mas, nessas escolas, os adolescentes acabam enfrentando a discriminação e o preconceito.

“Então acaba surgindo a questão da depressão, tendência ao suicídio que aqui na nossa região tem bastante. E aí o jovem acaba recorrendo a um jogo para distrair, como um meio de sair dessa visão de sociedade contra os povos indígenas”, relata.

O cacique está há cinco anos à frente da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP), que representa 17 povos indígenas da região. Durante os eventos que foi neste período, ele percebeu a popularidade dos games entre os povos indígenas.

Hoje, a Nativos já tem jogadores de três tribos, mas ainda está em fase inicial: a organização busca financiamento, regularização e um espaço para os jogadores. Kanynary detalha que as dificuldades neste momento são mais básicas, como acesso à uma internet estável e aparelhos bons para os jogos funcionarem.

Para Kanynary, a equipe poderá funcionar como um meio de inclusão social e digital, além de possibilitar que jovens transformem os jogos em ganhos financeiros, futuramente ajudando o próprio povo no futuro.

“Com os esports, esses jovens podem trazer retorno para sua própria comunidade”, afirma. Vale lembrar que o mercado de jogos digitais movimenta, globalmente, cerca de 1 bilhão de dólares ao ano.

A princípio, o foco da equipe de esports formada só por indígenas é trabalhar como os jogos mobile, que são mais acessíveis. Assim, títulos como Free Fire, Mobile Legends e Wild Rift estão na lista da Nativos.

Recentemente, a organização ganhou um apoio importante para conseguir ter mais visibilidade, quando a youtuber Mikann passou a ajudar na divulgação a equipe e fez uma intermediação com possíveis patrocinadores. 

Kanynary também diz que já está em conversas com empresas para captar recursos e fazer o projeto andar:

“A equipe ainda está no início, a gente ainda precisa de mais apoio. Mas já estamos dando a ideia para os jovens de que, em breve, eles terão este espaço. Eu conheço vários jovens que são players, que tem um grande potencial, mas falta espaço, mas se a gente conseguir isso na questão de mais patrocínio, mais apoio, e isso pode virar um retorno financeiro para a comunidade”, conclui.

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Texto por Vitor Santos

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