Inclusão: Copa Rise Academia surge para incluir PcDs no esporte eletrônico
A luta por inclusão nos esportes eletrônicos é um esforço constante, e pensando nisso, a Copa Rise Academia foi criada. O intuito do torneio é dar legitimidade aos competidores PcDs (Pessoa com Deficiência), incluindo estas pessoas nos esports e na sociedade.
Guilherme Cepeda, CEO da Gamer Squad e Co-Fundador da Rise Academia, explica que o campeonato tem o objetivo de fomentar o cenário de League of Legends para Pessoas com Deficiência, mostrando que todos podem participar ativamente da comunidade de esports. Para isso, as partidas serão feitas e transmitidas com o máximo de acessibilidade possível, com legendas e intérpretes.
A Copa surgiu a partir da união de pessoas e projetos que visam a inclusão no cenário, pensando em construir um ambiente seguro e acessível, onde as pessoas possam se sentir acolhidas e animadas.
“Queremos um campeonato que seja jogado e organizado por PcDs, de forma que fomente o mercado de trabalho. Queremos caster, designers, todas as pessoas necessárias para fazer um campeonato funcionar. Estamos em 2021 e esse é o segundo campeonato voltado para PcDs, que são muitas vezes excluídos por conta da sua deficiência ou subestimadas por sua condição. O cenário de esports está cada vez maior e cada vez menos inclusivo”, diz Suuhgetsu, Intérprete e Diretora de Acessibilidade GSE & Rise Academia.
Por exemplo, todas as artes do campeonato foram feitas pensando em identificação, utilizando personagens PcDs do League of Legends e incluindo elementos de acessibilidade, como libras.
Gabriel “Maizena Power” Melo, jogador surdo do elenco da Gamer Squad, exaltou a Copa Rise, lembrando da voz que o público PcD ganha:
“É muito gratificante ver um campeonato acessível para PcDs, fundamental para o crescimento do cenário. Começamos com pequenos passos, mas com muita satisfação e carinho. Nós damos valor a todos que estão presentes de alguma forma.
Quero que saibam que é uma honra trabalhar com uma equipe que realmente quer conquistar o cenário, superar todas as dificuldades e barreiras que estamos conseguindo vencer. Fazer parte desse campeonato e saber que isso está sendo possível me emociona demais. PcDs quase nunca tem voz, e mesmo nossos direitos básicos de saúde, educação e lazer não são discutidos ou respeitados”, diz ele.
Gabriel também faz parte do staff da Copa Risa Academia, que teve a participação de algumas pessoas com deficiência para ajudar na criação das regras e no campeonato em geral.
Foi dele, por exemplo, a ideia de chamar Danielle Coelho, psicóloga da lineup de surdos da Gamer Squad. A profissional foi chamada para dar suporte aos times do campeonato e participar da organização do mesmo. De acordo com as palavras de Gabriel, “a presença de uma psicóloga ajudaria a olhar para o lado humano de tudo, mesmo porque às vezes estamos organizando tudo focando no que é prático e técnico, que esquecemos do lado humano”.
A falta de acessibilidade no mundo dos esports ainda é um grande problema. Em torneios oficiais, por exemplo, ou mesmo em streams de influenciadores, a falta de legendas e/ou intérpretes é sentida pelo público surdo.
“Foi uma demanda que eles trouxeram para gente, porque hoje só há a Liga dos Surdos de campeonato para jogarem. Então imagine: você quer jogar, competir e só tem um evento desta natureza no ano. Era uma demanda constante dos players, participar de mais campeonatos. Havia também a dificuldade de estarem assistindo a jogos e não haver legenda ou intérprete, como eu vou aprender se não tenho acesso a informação? Acabam perdendo a chance de melhorar e aprender jogadas diferentes”, explica a psicóloga.
Dani também lembra da importância dos campeonatos cada vez mais acessíveis:
“Se olharmos para a psicologia do esporte, é importante a competição. Porque se estou competindo com pessoas de vários níveis, sejam eles maiores ou menores que o meu, aprendo, cresço dentro do jogo. Então, se eu não posso participar, como vou evoluir? Como vou melhorar?”, argumenta ela.
O reforço da necessidade de legendas e intérpretes em campeonatos oficiais é importante. Atualmente, uma das coisas que mais impede jovens jogadores PcDs a crescerem é justamente a questão da acessibilidade, e, se eles não conseguem entender ou consumir conteúdo para treino e conhecimento, como vão melhorar de fato?
“O ideal é ter intérprete e legenda nas transmissões e jogos, porque nem todo surdo sabe libras. É algo que muita gente acha que ‘ah, porque é surdo sabe libras’, mas não é bem assim. Eles são alfabetizados de formas diferentes, alguns sabem mesmo a língua, mas outros não, tendo apenas a legenda como recurso”, reforça Dani.
Questionada sobre o que poderia ser feito pelas organizações, pessoas e empresas para que estas deem mais visibilidade para a causa PcD no meio de esports, Dani levanta uma questão muito importante:
“Deixar o conteúdo mais acessível, em algumas plataformas é possível deixar a opção de legendas ativo, mas é algo que as pessoas não compreendem totalmente a necessidade. Eu, por exemplo, comecei a trabalhar com a lineup de surdos da Gamer Squad e minha visão mudou muito e tenho aprendido bastante. Já achava achava importante, agora tenho certeza que é muito mais do que eu imaginava”, reflete a profissional.
Programação da Copa Rise Academia
As inscrições para o evento começaram no dia 28 de abril e foram encerradas no dia 04 de maio. O evento principal terá um total de 04 dias de duração, acontecendo em dois finais de semana, com início previsto para 08 de maio e final para 16 de maio.
As partidas até as semifinais, essa inclusa, serão feitas no formato de MD3, sendo a final no formato MD5.
O campeonato terá sua transmissão na Twitch da Gamers Squad e contará com intérprete de libras e legendas durante o evento.
Sobre a Rise Academia
A Rise surgiu como um projeto interno da Gamer Squad e foi fundada oficialmente em dezembro de 2020, como uma organização de esports que conta com elencos de diversas modalidades. A Rise Academia também oferece gratuitamente aulas de Libras para jogadores e entusiastas dos esports.
“A ideia é que a Rise Academia se torne uma referência em acessibilidade e em inclusão dos surdos no esporte eletrônico futuramente. Dessa forma, os coletivos de inclusão ganham destaques justamente por cumprirem papel também de desmascarar o senso comum de que não há necessidade para legendas ou intérpretes”, conclui Guilherme Cepeda, CEO da Gamer Squad e Co-fundador da Rise Academia.
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Texto por Vitor Santos
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