Como é o meio dos esports universitários?

Universidades podem ser, muitas vezes, berços de grandes equipes esportivas, que fazem seu nome em competições com outras equipes de estudantes, que podem também ser o ponto de partida para muitos esportistas profissionais, como a NCAA, liga norte-americana de basquete que serve de “categoria de base” para muitos futuros craques da NBA, a liga principal.

E no caso do esporte virtual, acontece a mesma coisa? Naturalmente, a resposta é sim: com o crescimento do segmento no mundo todo, equipes de diferentes modalidades dos esports aparecem em universidades.

Nos EUA, país bastante conhecido pelo incentivo ao esporte em ambientes estudantis, as chamadas College Leagues vem ganhando bastante terreno. Assim, surge espaço para organizações como a Riot’s University of LOL, que fundou a uLOL em 2014. Atualmente a liga conta com 32 equipes, as quais costumam ter um bom nível técnico.

Nos EUA, as ligas universitárias de esports apresentam um bom nível, com equipes tendo considerável sucesso

O Head da uLOL dentro da Riot, Michael Sherman, explicou em uma entrevista que a ideia é deixar as organizações das ligas profissional e universitária em ambientes diferentes.

“Alguns jogadores de alto nível técnico podem ser contratados pelas equipes profissionais, assim como acontece em outros esportes, é um caminho natural”, afirma Sherman.

Além disso, ocorre também o fomento das universidades. Muitas já dão bolsas de estudo aos estudantes que têm um maior rendimento nos esports, assim como acontece com atletas de outras modalidades.

Mas, e no Brasil? Atualmente, ainda não temos incentivos do tipo, mas um cenário em crescimento que cedo ou tarde pode levar a isso. Raphael Mobis Tacla é o fundador da LUE (Liga Universitária de E-Sports), e ressalta este crescimento:

“Hoje temos mais de 150 times no país, apesar do cenário no Brasil ser um dos mais recentes do mundo. Estamos vendo um crescimento bastante acelerado”, afirma Raphael.

Por outro lado, há quem veja o Brasil ainda atrás neste cenário, com um caminho mais longo a ser trilhado. Marcelo Copola é um dos fundadores do TUES (Torneio Universitário de e-Sports), e adepto desta linha de pensamento.

O Torneio Universitário de e-Sports (TUES) é a maior competição brasileira de esports com equipes universitárias

“Comparado à audiência e inscritos não ficamos muito atrás dos principais países, mas a diferença é grande no investimento e na cultura de acompanhar esportes universitários. Temos aqui o UniLol, que levou o vencedor para disputar um campeonato na China. Mas ainda falta investimento”, explica Marcelo.

E o desafio para estas equipes não é apenas financeiro; Raphael ainda cita a necessidade de maior reconhecimento dentro das próprias universidades, o que nem sempre acontece: 

“A gente já vê acontecer, mas em poucos lugares. Quando as pessoas que estão na administração das faculdades começarem a perceber a visibilidade que ter uma equipe de eSports traz, a própria instituição vai começar a apoiar de maneira mais firme”, argumenta. 

Marcelo Copola ainda complementa o raciocínio, dizendo que “o que temos hoje são casos isolados de jogadores em nível profissional dentro do cenário universitário”.

Também é seguro dizer que a questão dos esports universitários bate com a dificuldade de conciliar a rotina de treinos de um jogador profissional com a rotina dos estudos, já que o tempo para estudar se torna prioridade, e por isso muitos talentos acabam sendo menos aproveitados do que deveriam.

Isso faz com que o cenário deixe de ser uma fonte de grandes jogadores para times profissionais, como normalmente aconteceria em outras modalidades esportivas. Assim, muitas equipes universitárias não têm tanto nível para competições profissionais.

Com um cenário assim, a saída acabam sendo os campeonatos, como o LUE: o evento conta com modalidades como LOL, CS:GO, Fifa, e Clash Royale, com um total em prêmios soma cerca de R$ 5.000,00, um valor bem abaixo das grandes ligas profissionais.

Time da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) durante o LUE 2017

Para Raphael, fundador do LUE, as competições de esports tem uma função que vai além simplesmente do jogo:

“Os eventos universitários são a possibilidade do aluno representar a sua universidade fazendo algo que é apaixonado”, conta Raphael, que faz parte do LUE desde sua fundação em 2015.

Marcelo Copola, deixou o TUES recentemente para dedicar-se a outros projetos, mas acredita nos eventos de esports universitários tendo uma função mais ampla, social e acadêmica:

“Com esse trabalho conseguimos agregar pesquisas acadêmicas, teses de conclusão e estudo. É importante mostrar a esse público que há todo um mercado profissional que gira ao redor dos games, não se limita aos atletas e técnicos. Isso ajuda a expandir as possibilidades profissionais dos alunos. Os campeonatos são apenas o topo da pirâmide do e-Sport Universitário”, conclui.

Tags: