Como a pandemia de Covid-19 uniu o automobilismo real ao virtual

A pandemia de Covid-19 acabou impondo diversas limitações ao mercado, em diferentes níveis e de diferentes formas. No caso do automobilismo, foi uma reação em cadeia: sem o público estar presente, a publicidade caiu. Com a publicidade caindo, o faturamento das equipes e pilotos também caiu, e assim sucessivamente. 

Assim, equipes e categorias com tradição no esporte a motor se viram numa situação complicada. O risco de extinção de grandes nomes das corridas era real, e assim era necessário reinventar a roda. Ou melhor, os veículos.

Unindo o automobilismo real com o esporte eletrônico, surgiram as competições de “sim racing”, as corridas em simuladores. Na medida do possível, se trazia a mesma emoção das corridas reais, mas com segurança. Sem o cheiro da borracha queimando no asfalto e sem o ronco dos motores de verdade, mas ainda assim emocionante.

Essa receita fez com que o automobilismo de verdade ganhasse mais adeptos do público jovem, que na maioria das vezes não liga para corridas; mas, por ligarem para videogames, se uniu o útil ao agradável, num negócio de sucesso para todas as partes: as emissoras de esporte passaram a exibir as corridas virtuais, surpreendentemente mantendo a audiência. Os pilotos virtuais passaram a ter a companhia de pilotos reais, gerando publicidade para ambos os lados. E ambos os públicos, do automobilismo e dos esports, saíram ganhando no final.

Charles Leclerc, atual piloto da Ferrari na F1 real, é figurinha carimbada nas competições virtuais, ajudando a atrair um público jovem

E por falar em sair ganhando, o chamado sim racing se mostra barato e rentável: a Pit Boss Grills, marca de churrasqueiras que patrocina a NASCAR (categoria de stock cars norte-americana), nunca teve os US$ 35 milhões para patrocinar um piloto de primeiro escalão das corridas reais. Mas, ao encontrar a NASCAR virtual, saiu ganhando ao patrocinar um piloto igualmente de primeiro escalão por um valor de quatro dígitos por prova, exibindo o logo das churrasqueiras para um milhão de pessoas a cada etapa. 

Se com uma empresa de médio porte isso é um bom negócio, para as marcas maiores, como as montadoras, é mais válido ainda. A IMSA, categoria de endurance dos Estados Unidos, recebeu um Corvette C8.R em sua versão virtual, numa ação que se mostrou bem-sucedida. Segundo Kevin Kelly, porta-voz da Chevrolet, isso cria uma fidelidade do público jovem:

“É claro que os gamers não podem ser o principal público-alvo de um Corvette que custa US$ 60 mil, por exemplo. Mas eles podem se tornar fiéis a marca”, argumenta.

Evento da NASCAR virtual atraiu um público menor que o da categoria real, mas acima dos números das corridas virtuais

Como dito anteriormente, a substituição das corridas reais pelas virtuais na televisão se mostrou uma excelente alternativa. Em 22 de março de 2020, uma corrida virtual da NASCAR foi exibida na TV americana, juntando 910 mil espectadores ao todo. Menos do que os 3 milhões que as provas reais juntam? Sim, porém mais do que 400 mil que uma corrida virtual normalmente reuniria. 

No caso da F1, que teve uma etapa virtual transmitida na mesma data, 4 milhões de pessoas assistindo; bem abaixo dos 34 milhões que a categoria de verdade junta, mas acima dos 1,8 milhões que uma corrida de videogame costuma ter. Ou seja, um bom número para o público dos esports que não via suas disputas na TV e também um bom número para o público dos carros reais que não viam disputa alguma acontecendo.

Julian Tan, diretor de negócios digitais e esportes eletrônicos (ou esports) da Fórmula 1, diz que a temporada virtual da categoria em 2020 foi benéfica pela participação que o público teve:

“O ano de 2020 deu à F1 virtual um novo grau de exposição. Quando voltamos às corridas reais, no GP da Áustria, os números de participação do público pelos canais digitais foram mais altos do que nunca. Até nosso conteúdo de esports sobre o campeonato virtual oficial do ano passado bateu recordes”, revela Tan.

Em resumo, a pandemia obrigou o mercado a se reinventar no seu funcionamento. Mas o que era para ser uma simples solução para manter a roda girando se tornou uma solução prática, que trouxe e pode continuar trazendo muito mais frutos do que os públicos podem imaginar. Independentemente de quem saiu na frente nesta ideia de unir ambos os mundos, todos parecem sair ganhando no final.

E para os fãs de corridas (sejam virtuais ou reais) que acompanham nosso trabalho, estamos realizando uma competição de sim racing: o BTS Pro Sim Series, que está sendo transmitido nas plataformas virtuais da BTS, em nosso canal de automobilismo na Twitch. Siga a gente no Facebook, no Twitter e no Instagram para ficar ligado!

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